Reparei nos corações que adornavam o bar que frequento, estava
enfeitado de amor, vermelho, paixão, e os corações enchiam literalmente o local.
Como também era Carnaval,
por breves segundos pensei que fosse esta a fantasia, (dress code) da festa.
Fazia sentido...
Brincar ao amor e fantasia-lo, é poder entrar naquele sonho de tão poucos e imaginar que podia bem ser o nosso.
Era o dia de S Valentim.
Numa noite gélida e chuvosa.
O frio exterior em contacto com o calor do interior deixava os vidros baços e húmidos, ao som da musica que embalava graciosamente aqueles corpos e almas.
Mesmo à minha frente reparei num Homem ,nunca o tinha visto por ali.
Ele era, o que se chama “um gato”, na gíria popular feminina.
Não consegui desviar o olhar daquela silhueta sólida, serena, de contornos sensuais e tremendamente sexy...
Com uma postura elegante e nobre, pareceu-me dono duma forte personalidade e carisma.
Cantava a musica que se ouvia com um movimento de lábios e olhar tão provocadores e insinuantes que quase incendiaram o local.
Um caçador nato, pensei.
São assim os gatos!
Aquele não era diferente...
Sempre tive fascínio e medo de gatos...
Acho-os desligados de afetos, convencidos e muito arrogantes, quase a roçar a indelicadeza, ou até mesmo a grosseria.
Apostada em jogar aquele jogo , continuei a minha constante ligação ao seu olhar.
No vidro grande ao seu lado, embaciado e cúmplice , desenhou um coração e sorriu-me.
Num gesto cheio de intenção e carregado de charme, ainda escreveu algumas palavras.
Àquela distância não conseguia lê-las,
desejei que a água que escorria pelo vidro não as apagasse, para que mais tarde as pudesse ler.
A musica parou de tocar, levantou-se ,sorriu-me e calmamente abandonou o local com aquela certeza de quem sabe que o meu próximo passo será em direção à frase ali deixada.
Isso irritou-me , confesso.
"Quero-te conhec... er ", era o fim da palavra já meia desfeita .
Lembrei-me do que me disse uma vez uma amiga sobre Gatos...
“ É verdade que os gatos têm uma forte personalidade e são muito independentes, mas podem ser dóceis e carinhosos,
depende de quanto estivermos dispostas a conquistá-los”.
Não voltou aquele bar, mas se um dia voltar, eu vou “adotá-lo”.
Nani Carvalho
Fevereiro 2018
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